O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Diálogo Poético Orlando Costa Filho e Ianê Mello







MERCADO DO PORTO (Um cego canta até arrebentar)







manhã cinzenta


como chove nessa ausência de vento!


o mercado é encardido fétido


peixes quase podres, o hálito


das entranhas dos homens odres


suores de três dias no sovaco da camisa e


manchas amarelas - estampa na cueca.


a cachaça é farta até o próximo salário a


nicotina impregna nas artroses entre os dedos.






manhã marrenta


porre e falta de argumento!


nas calçadas e prédios antiestéticos


meus olhos subjetivos esmiúçam cálidos


as faces que expressam a síndrome do enxofre


sem trégua, a mão que o alisar desconhece intriga o


verbo inexistente num dia de merda.


o modo é indicativo o tempo presente tudo necessário para a


força de escape fazer-me fugir do degredo.






manhã sonolenta


por dentro da estufa do dia chovendo!


lava as mãos imóveis dos santos de tédio


reflete a angústia de olhares infantis pálidos


nas cordas de aço que vibram ganem sofrem as


almas são ostras herméticas, nas torres


toda a esperança de um cheque mate forever.


ver a serpente fugir do canário e


a poesia domar esse coração-torpedo.






*subtítulo: verso da canção A Página do Relâmpago Elétrico, by Beto Guedes & Ronaldo Bastos





Orlando Costa Filho




Crédito de Imagem:  Caspar David Friedric







PARCA MANHÃ






...e na manhã cinzenta e pálida

versos que perpassam o tempo gélido

cores esmaecidas encharcam olhos

frio que enrijece a espinha

densa corda a amarrar sentidos

estremecidos em suores que afloram

pobre manhã de sabores ocres

azedume e olores enchem o ar

de solidões cansadas e eternas

macerados sentimentos no acomodado

e o mais é silêncio e dor

na aspereza de seres que se perdem

em seus rostos marcas de uma vida

em seus olhos pontes de saudades

em seus corpos desejos inconfessos...






Ianê Mello



Crédito de Imagem: Andrew Wyeth

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails