O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




sexta-feira, 21 de outubro de 2011

VOZES EM MADRIGAL - Sexta-feira da Ousadia Literária: A LOUCURA



"Por te

brisas nas nuvens
no final da tarde
silêncios demais
que não solidão
mudez de jasmins
no início da noite
deliro teu perfume
enlouqueço sem ti
berro quando morro
iludo-me de mar 
e onda"

Luiza Maciel Nogueira



LOUCURA NO CÉU

Meteoritos povoam meus espaços
ziguizagueiam entre as minhas múltiplas estrelas
enlouqueço em alta frequência
De repente um grande estrondo é ouvido
foi forte a queda
morreu-se uma delas.

Giselle Serejo



O Passeio da Loucura

Fui levada para bailar em vastos paços
visitei palácios no areal
Minhas mistas asas externas..eram de filigrana
gostavam de encenar

Passeando iam bailando num colorido caleidoscopial
tudo era surreal
figuras colossais elas encontraram
pairaram os helicópteros
renasciam em outras texturas

Na (re) volta do passeio
as coitadas molharam
chuva forte varreu as mistas
ficou a Loucura sem asas..casa destelhada.

Giselle Serejo


Loucura da mulher-cabelo

Correndo no pantâno sagrado
a louca mulher-cabelo
disparava na contra-mão
queria estender as roupas lavadas
no varal da podridão

Corre mulher-cabelo, ouvia-se falar
ela saía em disparada, a correr em desatino
so parou depois que topou com a temida areia movediça...
tarde demais..afundou..os cabelos da infeliz foram os primeiros a sucumbiz.

Giselle Serejo


Poesia - Loucura Lúcida


"A diferença entre um poeta e um louco é que o
poeta sabe que é louco...
Porque a poesia é uma loucura lúcida."

Mario Quintana

(Para Mario Quintana)
   
Profundas nossas palavras
que gotejam emoção
como se fossem lavas
de um vulcão em erupção
Viscerais e pungentes
arrancadas de nossa alma
Sentimentos tão urgentes
que necessitam de expressão
e não ponderam a calma
O papel é o veículo
para nossa exortação
O instrumento precípuo
à nossa liberação
Súplicas podem ser
e urgem serem ouvidas
a quem as quiser ler
para que sejam sentidas
Gritam eloquentemente
saltando aos olhos de quem lê
Não há de ser mansamente
que expressaremos o sofrer
Seremos por isso dementes
estando sempre a mercê
de críticas incoerentes?


Nos sabemos loucos
como bem disse Quintana
Nos importarmos pra quê?
Se nossa mente é insana,
a lucidez ... é pra poucos

Ianê Mello



EU, VOCÊ E A LOUCA


Não venha me dizer que a vida é fácil
Se você se contenta com migalhas, eu não
Almejo mais da vida do que uma simples passagem
As cordas do violão vibram ao toque do dedos
Quero sentir meu corpo vibrar ao toque de suas mãos
Quero sentir a brisa arrepiar minha pele
E o perfume da flor a exalar o ambiente
Somos tão diferentes
A linguagem que falo não é a sua
Nossas palavras se perdem no vazio
E sinto o amor naufragar
A vida para mim é luta, persistência
É composta de momentos de alegria
Mas sempre é maior a dor
Eu construo e amo a poesia
Você sequer a compreende
Muito menos como forma de expresão
Se a expressão é verbal
tudo o que digo é banal
e de somenos importância
Se parto para a atitude
não me submetendo às suas vontades
para expressar meu desagrado
você se considera ofendido
e estremamente ameaçado
reage com tal agressividade
que me faz querer acreditar ser eu 
a culpada  de tal desavença
Nesse momento me perco
Não sei mais que rumo tomar
e o animal que em mim habita,
como em qualquer ser humano,
luta em se manifestar
Aí pior ainda fica
Sou considerada louca
descontrolada e maldita
Você o bom samaritano
que sempre a paz cultivou
e eu a endemoniada
acusada, julgada e culpada
pelos crimes que praticou.

 Ianê Mello


Louca, eu?


Insana por dizer
por expressar emoções
por ser de carne e ossso
por gritar
me rebelar
não conter

Louca, eu?

Por me debater
por surtar
por explodir
por lutar
por chorar

Louca, eu?

Sim...

Tirem-me a camisa de força!
Quero viver minha loucura
sem amarras para conter
: não quero a cura


Saiam todos do "teatro de máscaras"

e deixem-me simplesmente VIVER.

Ianê Mello


FORA DE MIM

Louca estou
a rasgar minha roupa
a gritar impropriedades
a vagar pelas ruas
completamente nua
exposta
olhos perdidos 
vazios
sem controle
sem rédeas
cavalo solto
na garganta o grito
estrangulado
na alma o sentimento
encarcerado
peito cravejado
em solidões
fugas de mim
no poço sem fundo
o fim
vida que vagueia
impunemente
sem rumo
casa destelhada
minha frágil morada
ferrugem e pó
cactos retorcidos
tenho sede 
corpo recolhido
entre os escombros
da vida
que jaz.

Ianê Mello.
(Pintura de Ans Markus)



AS VISÕES

Começaram então as visões. Eu, que não conheço esta cidade desde o princípio, comecei a ter visões. Como se de repente histórias, narrativas surgissem inteiras, não na minha cabeça, mas na própria cidade. Como se ela já contivesse uma memória do futuro. Como se de repente eu reparasse nos contadores de lendas do fim dos tempos. Começou tudo a parecer-me um véu, um encobrir da vista. O movimento, a construção, a reconstrução, o fluxo, o desejo, a discórdia e os planos, tudo se me tornou transparente e pude ver. Foi então que começaram as visões. Comecei a ouvir quando a surdez se tornou definitiva. As narrativas visitaram-me.

Primeira visão: A CIDADE LIQUEFEITA

         Toda a cidade era de pedra e ferro articulado, dura e agressiva nas suas arestas e movimentos. Isso não era uma visão. Era um espelho velho e gasto em que já me não via. Era a minha cidade. As chuvas haviam enferrujado as máquinas e as pedras estavam sujas e escorregadias, duras e moles, cheias dos musgos e das gorduras. Os vidros não existiam havia muito tempo e os ventos contemporâneos, jovens e inesperados, sopravam sempre, rentes e infalíveis. Muitos de nós já nos havíamos retirado para as colinas para esperar e observar. Muitos já vivíamos fora desse tempo, nesse espaço intermédio e final. Os nossos olhos estavam extremamente poderosos, avistavam o mínimo movimento na cidade, as nossas mentes extremamente lúcidas desprezavam cada pequena alteração, o nosso coração resistia a cada subtil tentação.

         Foi em plena noite. Tudo se iluminou naturalmente. Tudo ficou visível. Primeiro foi uma terrível transparência, assustadora e perfeita. Tudo se via através de tudo. Um gelo puríssimo, a pedra e o ferro atravessados pela luz. O interior e o exterior das coisas identificaram-se neste longo momento, quebrado pelo uníssono grito que soltámos nas colinas.  A visão insuportável da nossa cidade.
         E o gelo liquefez-se. A cidade derreteu-se ali em baixo, diante de nós, sem um ruído. Tudo se reduziu lentamente à superfície de um lago sem fundo. E uma intensa e nova sensação de liberdade se apoderou de nós.


Segunda visão: O RIO INFINITO
Esta foi a visão que se foi repetindo. Era a visão de mim mesmo: o rio que corria em redor de mim.


Terceira visão: A FÁBRICA DE ENERGIA
que era perfeita e fabricava energia para  si mesma cúbica lisa brilhante e sem qualquer abertura para o exterior isto é sem qualquer exterior com o lado assente no chão invisível e misterioso com os objectivos perfeitamente definidos e totalmente atingidos fabricar energia para continuar a fabricar energia mudava de cor constantemente brilhava intensamente nós estávamos fora dela apenas por artifício literário nós estávamos lá dentro mas  de dentro não tínhamos qualquer visão só de fora pelo artifício era então uma visão implacável visão de uma visão

Quarta visão: OS MILHÕES DE ILHAS

Num mar azul como só nas visões existe. Os milhões de  ilhas com milhões de Robinsons Crusoes que vão aos destroços dos seus hovercrafts buscar aquilo de que precisam para a sobrevivência. Para continuar, com a lógica mais inocente e lírica, as duas primeiras visões. Estes Robinsons não desejam abandonar a ilha. Ou desejam? Será eterna a vida destes solitários? É que não se vê forma de acabar esta narrativa. Nem sequer existem selvagens, nem Sexta-Feira, nem papagaios coloridos.
Não consigo descrever as ilhas. Serão todas iguais? Serão como esta em que me encontro? Serão esta areia branca onde se imprimem as visões?

Quinta visão : O SILÊNCIO ABSOLUTO
Como facilmente se depreende, não foi sobretudo uma visão mas sim uma audição, ou melhor, nem isso como também é óbvio pela consideração das palavras. Digamos que foi a visão do silêncio como aliás já estava dito desde o princípio.
         Uma manhã acordei com esse espantoso silêncio nos ouvidos. Como já sabem, nós cá em cima nas colinas trazemos sempre connosco um ruído contínuo, directo e em eco, da cidade distante. Quer de dia quer de noite um ressom, uns compassados estampidos. Por vezes, retiramo-nos para mais longe e para mais alto nas colinas para nos aproximarmos do silêncio. Para nos aproximarmos. Mas essa manhã foi espantosa.
         Nem a mínima vibração.

Sexta visão:  O ETERNO PÔR-DO-SOL
E eis que de repente é à tardinha.
Nós, nas colinas, esperamos todo o dia o fim do dia. Mas hoje é tarde já de manhã. Acordámos com o sol do lado contrário. Sobre a linha do horizonte a laranja brilhante, suspensa e extraordinariamente grande. E para sempre imóvel. Passam as nuvens e as aves, por vezes levanta-se o nevoeiro da tarde, por vezes os cambiantes de cor variam surpreendentemente, por vezes a abóbada celeste é intensamente azul,  mas o sol permanece imóvel, sempre e sempre a pôr-se.
         Eis outra das visões eternas. E lá em baixo, na cidade, já há muito que o sol se pôs.


António Castanheira, sexta-feira da ousadia literária: A LOUCURA


Minha louca aquarela

Todas as sandices do universo é na alma do artista que se faz acontecer...

Meus azuis me fazem ficar odara. Tenho azuis em todas as matizes em minha mente in((sana). Azul do mar das Maldivas, azul da Guanabara, lápis-azúli do oceano Pacífico, inclusive azul-limão que azeda minhas loucuras débeis e frágeis quando me faço encanto para te atrair e te atrair... Uso alguns pigmentos de Renoir que ficam expostas nas camadas sútis de minh´alma . Em seguida me estenderei em um varal para a devida secagem. O carmim que foi de Lautrec usarei para pintar minha boca sedenta de ti. Nos meus olhos usarei o negro de Júpiter. Na atmosfera, um rosto de mulher. Sujarei minhas mãos de zinabre e obterei o prazer em meus dedos... Meu sorriso será idêntico ao de Monalisa só para te deixar confuso. Roubarei então todo o romantismo que há em Goya; quem sabe um dia o devolvo. Misturarei bálsamo para aromatizar meus caminhos com terebintina e copaíba e quem sabe me sentiras como madeira de lei. Com o tradicionalismo dessas técnicas me postarei diante de ti sã e flexível, tentando manter o equilíbrio da salubridade para nunca mais deixar rachar o meu verniz. Ficarei então desnuda como nas telas de Caravaggio e posarei hora sim acobreada, e hora não abarrocada, pois nunca se vai à um grande evento sem antes se produzir à altura do acontecimento... De mim construirei um grande painel que não caberá em nenhum cavalete. Monet me emprestará seu talento impressionista para eu te chamar mais a atenção, mas pensando bem prefiro a ironia. Tenho fé que Volti velará por mim e dirá amém quando notar que provoquei mudanças nessa tua percepção . Amanhã quem sabe voltarei a ser surrealista, mesmo porque estamos em pleno século XXI e está mais do que na hora da Amy acordar.
...e será justamente nessa hora que haverá a coligação entre a louca e a artista, entre meus azuis poéticos e a camisa de força.

Faltará apenas dar os retoque finais e não esquecer de assinar para não haver imitações: "Perigo, tinta fresca!"

Amy Chauvin Mil-Homens



Naquele momento de loucura
Abri a ferida
Estanquei meu sangue
Cicatrizei a tua dor. 

Ydeo Oga

O dia sangra nas tuas mãos e o olhar paralisa o grito!

Ydeo Oga


LOUCURA DA ESTRELA

Que farei com este sentimento,
Com esta loucura que invadiu meu coração?
Que caiu feito um raio 
E queima-me, furiosa estrela de paixão?

A partir daquele dia,
Depois dos olhos teus
Os pensamentos meus
Mudaram a morada do olhar...

Alucinam-se querendo ultrapassar 
O desejo de abraçar
Somente por abraçar...

Querem a insensatez 
De beijar esses azuis 
Que me fitam profundamente,
Faróis que acendem
Meu desejo latente de amar...

E querem invadir
Os limites da moderação 
Entregando-se às chamas 
Elevadas da paixão...

Ah, esta loucura que me invade
E me empurra pro abismo,
Que me desarvora na vontade
De convidar-te aos desvarios 
Deste corpo inflamado de desejo 
De amar-te sem medo, 
Sem a limitação escrava do bom senso,
E derramar-me feito um rio sobre teu mar...
E amar, amar, 
Amar-te até morrer-me em cinzas sobre teus beijos... 

Enlouqueci?
Sonhei que te fizeste luz dentro de mim!

Que farei com este sentimento,
Com esta loucura que invadiu meu coração?
Que caiu feito um raio 
E queima-me, furiosa estrela de paixão?

Janet Zimmermann


PIRAÇÃO DO CORAÇÃO

Ouço.
Ouço?
Será?
Acho que sim...
Não, já não sei se ouço...
Deve ser impressão.
Deve ser apenas minha fértil imaginação
ouvindo coisas a esta hora da noite...
Vai ver é puro exagero
deste meu coração louco e traiçoeiro...
Mas que ouço, ouço 
o soluçar de uma criança 
numa cidade distante
ou perto,
não sei, 
parece ali
ou aqui ao lado,
dentro de mim?
Será?
Será que ouço mesmo este lamento?
Será que é uma tristeza provinda da minha incerteza
ou seria a incerteza brincando com a minha tristeza?
Mais certo que seja meu sonho
chorando em bátegas,
inundando saudade pra fora do peito...
Ouçouçouço...............

Janet Zimmermann


[Pablo Picasso - Blue Nude]


frio intenso
um fondue de queijo
beijo na boca

(Cristina Desouza)

SER POETA NÃO É SÓ ESCREVER LINHAS BONITAS, COM CLAREZA.
SER POETA É DEMONSTRAR ATRAVÉS DAS LINHAS SEUS SENTIMENTOS, SUAS FRUSTAÇÕES, SEU MODO DE PENSAR.
TODOS TENS UM POUCO DE LOUCURA, MAS O POETA QUE TEM CORAGEM EXPRESSA SEU MODO DE AGIR.
FAZ BEM PARA ALMA, ESPIRITO, PARA O UNIVERSO NO INFINITO.
TODOS PODEM, SÓ BASTA TER UM POUCO DE CORAGEM, E PODER COM A POESIA AJUDAR UM POUCO AS PESSOAS QUE LEREM.
TODOS TENS UM POUCO DA LOUCURA, MAS EU SOU LUNÁTICA PELO UNIVERSO .....

(ANINHA'SD ANTARES VARNIER)


como uma velha louca 
saio à rua
todos os dias
catadora de papel
em busca
do poema perdido

(Nydia Bonetti)


Discurso na praça -
Parece um grande conselho
o que o louco diz

(Alvaro Posselt)


Ardência

de louco desejos
meus lábios suam tentações
flores do tempo para ti
que tenha consciência
da tua e da minha loucura 
e nunca te julgues são
por seres vão
arde o espaço na superfície
de um beijo
confundo-me em ti
dentro de ti

Luiza Maciel Nogueira



Florescem loucuras

firmo o salto
Olha eu aqui!
Louca, varrida, perdida
na cidade dos bem te vis
e agora como farei
para captar teus olhos nos meus 
e te hipnotizar calmamente 
sem toda essa ânsia
a querer te devorar todo
e deixar só osso
depois, ah depois logo se vê
irei a outra galáxia
visitarei outras estrelas
sim, talvez com você
há de ser um dia
um sonho concreto
jasmins, lírios e galáxias
insetos azuis, gente colorida
raios de sol de gente
há de ser um dia realidade
o amor que invento
o beijo que insinuo
e o abraço que nunca chega
há de ser um dia
há de ser
um dia...

Luiza Maciel Nogueira


Minhas mãos tremem e 
Num relace .. o lance
E tua virgem menina
É possuida libertina
E eu ?
Escravo de devaneios teu.

Jose Eduardo Ferreira Caetano

MUITA CORDA... 

Uma coisa eu vou dizer,
Dê muita corda a bastar
A quem pensa que engana,
Que sozinha vai se matar...

Pedro Campos


RECURSO

Um passo antes
da morte chegar,
a loucura
desagrega,
como recurso último
quando é grande,
mais do que pode
um atormentado corpo,
a dor que causa
o viver no mundo.

*
Imagem de Chris Acqua
no álbum de fotos de Lucien Freud/no FB
De: NeyMaria Menezes


Uma palavra 
que saboreio
está entre a fenda
e o sânscrito

... reparte o mar vermelho
ao meio
ao sim ao centro 

e, ao tanto

um mantra tântrico
sinto/sentes/santa....

são santas todas as partículas
que não ebulem

não tingem de vermelho a bolinação 
entre o vento, e 
a água benta 

sob a minha blusa


Lou Albergaria


singelos ou loucos vamos
fazendo poesia
pois que somos todos uns 
ou outros
ambos talvez 
nenhuns

Nydia Bonetti

e me chamam:- poeta
sou apenas 
uma louca de pedra
que se desmancha 
em versos

Nydia Bonetti

grito surdo calado
janela da noite
dores em fuga

Ydeo Oga

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails