O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




sexta-feira, 12 de novembro de 2010

ARREPIOU-ME SABER QUE EXISTO




Arrepiou-me saber que existo.
Pássaro sem ninho ensaiando o primeiro vôo.
Borboleta no casulo. 
Cheiros e odores espalhados no ar.
Olfato apurado.
Lembranças de outros tempos já idos.
O sapo coaxando no riacho.
Potes de geléia de damasco e framboesa.
A casa dos fundos que servia de abrigo.
O caminho de hortências azuis.
Cheiro de eucalipto e mato.
Refrescante.

Arrepiou-me saber que existo.
Enquanto na bacia flutua um prego enferrujado.
Beatitude suprema.
Doce de leite em folhas de eucalipto.
Vidoeiro.
Com a infância ainda exalando seus perfumes.
O tremeluz no afã da fuga.
A lua é pulga saltitando nas ramagens.
Vidros e tapetes caseiros manchados de luz.
Danças no grande salão.
O teu e o meu repertórios.
Replicantes.


Arrepiou-me saber que existo.
Ao tingir os lábios de amora.
Enquanto a primavera atinge meus poros.
Eis o balé dos panos desfiados.
Numa eternidade antropófaga.
Apenas por haver mastigado a hóstia. 
Perseguindo as grossas mentiras de Deus.
Os elos da corrente foram-se quebrando um a um.
Súbito, sua mão encantada.
O silvo, o desejo e a concha.
Enlaçam-me.


Arrepiou-me saber que existo.
No sol quente que me aquece a pele branca toda manhã.
No alarme que me desperta e ouço sua voz.
Minutos eternizados num longo beijo e num abraço sem fim.
Onde tudo é sagrado e expressão divina.
Amar é libertar-se dos grilhões e entregar-se sem medo.
No carinho de seus olhos o encontro.
A música, a dança e a paz.
Enternecem-me.


Arrepiou-me saber que existo.
Um caminho que percorro do leste a oeste
Bandeiras de paises estrangeiros
Cores de gema e carmim misturam-se.
Para revelação da verdade a felicidade está acolá.
Nesta cama chove à cântaros. E nosso sexo é um arco-íris.
Tudo para nos inundar e enriquecer. 
O pote de ouro é mais que uma promessa.
Ele está ali, agora, na colina que adormece.
Uma lua novíssima surge, linda como uma fada.
Serena como o olho do pavão de Krishna.
Algum dia saberemos definir o gozo.
Delicadas explicações...


Beto Palaio e Ianê Mello

2 comentários:

Beto Palaio disse...

Adorei escrever este contigo... Foi como tocar no Satori... Uma iluminação súbita... Isto combina com os fogos de artifício... te amo!

Ianê Mello disse...

Sim , amor, uma experiência que transcende esse mundo material.

Místico e mágico escrever com você.

Te amo.

Bjbj

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