O Equilíbrio da Vida (TAO)


O excesso de luz cega a vista.


O excesso de som ensurdece o ouvido.

Condimentos em demais estragam o gosto.

O ímpeto das paixões perturba o coração.

A cobiça do impossível destrói a ética.

Por isso, o sábio em sua alma

Determina a medida de cada coisa.

Todas as coisas visíveis lhe são apenas

Setas que apontam para o Invisível.



(Tao-Te King, Lao-Tsé)




sexta-feira, 14 de maio de 2010

Incógnita


Não sei mais
Quem sou

A goteira
Estragou
Meu último
Retrato

Uma foto antiga
Três por quatro

Zélia Guardiano


Ainda me falta um quarto
vazio para me achar
as coisas são miúdas
ainda assim não sou grande
sou miniatura na minha esfera
que me consome

eu tão esmiuçada
em terra de gigantes

Lara Amaral



Anônimo

Não me exijas identidade,
que não decoro tanta coisa:
sou a protagonista da novela,
sou a manchete dos jornais,
sou a estrada para o devir,
sou o estádio e seus gritos,
sou o descaso dos políticos,
sou a libertinagem do sábado,
sou a inquietude dos amantes,
sou a proibição da Igreja,
sou a etiqueta do laboratório,
sou o passo que falta à coragem,
sou a verdade que esperneia,
sou a impunidade que cala,
uma boca mais à fome,
uma poltrona só na sala,
a maca esquecida na emergência,
uma solidão a tentar o dia,
uma presença a menos em si,
um cartão de onze números,
um voto a mais nas urnas,
um cálculo nas estatísticas,
caio com a velocidade dos rios,
subo com a monotonia das torres,
repito os vazios da multidão,
digo as palavras que não entendo,
e sigo no caminho que não vou,
pois só vejo quadrados e controles...

dizem que sou raça humana,
que trago o mundo como registro,
uma lacuna para o pensamento,
um destino para um devaneio,
sou assim disso que não sei...

não, não me cobres identidade;
explora tu o meu pendrive,
onde cabem os tantos que sou,
e esses poucos que não sou.

Ricardo Fabião


Diálogo poético - Colaboradores: Zélia Guardiano (pintura e poema), Lara Amaral e Ricardo Fabião

9 comentários:

Ulisses Reis ® disse...

Ache muito bom a forma simples de dizer, gosto do estilo, muito bom beijos !!!

Sandra Gonçalves disse...

Auto retratos...
Todos falando por si,
E todos maravilhosos.
bjos achocolatados

Elaine França disse...

Querido amigo, muito obrigada pela força que vc me dá no meu humilde blog!

Sua postagem ficou ótima... sinto-me inspirada!o texto da Zélia é sensacional!
Muito obrigada mesmo!

(CARLOS - MENINO BEIJA - FLOR) disse...

Parabéns,Zélia. Aqui a poesia e bom gosto fluem. Beijos e ótimo final de semana

Lou Albergaria disse...

Ricardo Fabião,

Quanto fatalismo em seus versos...

A vida é tão mais fluida...

Como disse Hilda Hilst, "...a vida é líquida"; por isso, deixe-se inundar... não leve nada tão a sério, assim...

Não vale a pena...

BJS!!!! Seu poema é bom, mas falta leveza, suavidade, libertinagem, orgasmo...

Ianê Mello disse...

Parabéns, amigos!

Excelentes poemas.

Beijos.

Ricardo Fabião disse...

Oi, Lou...
agradeço o comentário, mas há algo que devo esclarecer: o poema postado por mim não é autobiográfico; ou seja, essa não é, em suma, minha visão acerca do mundo. O eu-lírico criado no poema dialoga com aquele trazido por Zélia (alguém que desconhece sua identidade quando perde seu retrato 3X4).

Mas, há sempre a possibilidade de interpretações múltiplas. Esclareci sobretudo para registrar a minha intenção em permanecer no sentido criado por Zélia.

Beijos.
(E agradeço aos demais os comentários)

Juliana Carla disse...

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APOIO

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Boa tarde

O BRAILLE DA ALMA está concorrendo o Troféu The Best GB 2010 na Gazeta dos Blogueiros. Conto com o seu apoio. Para votar visite o site:

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A votação vai até o dia 19/04/201. Vamos somar forças numa só emoção! Ficarei feliz com sua colaboração.

Desde já fico grata.

Juliana Carla
brailledalma.blogspot.com/


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Lou Albergaria disse...

Ricardo,

Estranho que antes de ler sua resposta ao meu comentário, havia lido seu poema pela segunda vez agora e abri os COMENTÁRIOS, justamente para corrigir o que havia dito anteriormente, pois creio que li com muita pressa da primeira vez e agora li com mais calma, atenção e tranquilidade.

E o que ia dizer a vc e vou dizer é que SEU POEMA É MUITO BOM, pois traz o realismo do cotidiano com incessante vigor e austeridade que, infelizmente, é o que somos SOCIALMENTE: apenas 11 números e, ai de nós, se não estivermos com 'eles' sempre à mão...

Admiro muito seus versos sempre...

Desculpe pela primeira interpretação um tanto quanto equivocada.

SUPER BEIJO!!!!!

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